Por Edmar Bulla
Olhares diferentes, culturas múltiplas, opiniões divergentes… Tudo isso leva uma organização a inovar, a driblar cenários de crise com mais facilidade, potencializar ao máximo a criatividade e promover mais felicidade no trabalho. No bom jargão corporativo, toda a cadeia de valor ganha, do colaborador ao consumidor final.
No entanto, metas financeiras continuam sufocando as tentativas de ter a diversidade como prática natural de gestão, porque líderes estão mais preocupados em bater metas do que criar uma cultura diversa e inovadora. O resultado é uma repetição de padrões e comportamentos que perpetuam a mesmice. E todos sabemos que a letargia é um fator que impacta negativamente a competitividade e a sustentabilidade de um negócio.
Em todos os projetos de cultura organizacional e gestão da mudança nos quais tive a oportunidade de atuar, a casta de líderes forma, sem exceção, a maior barreira à diversidade e, consequentemente, à inovação, quando deveriam ser os seus grandes viabilizadores. Em outras palavras, a manutenção do status quo pelos líderes, que zelam em primeira instância pelo negócio, tende a levar o próprio negócio ao fracasso. Um grande paradoxo!
Há muitos exemplos de empresas que assumem os riscos inerentes à inovação, por meio da pluralidade de suas equipes, e colhem resultados extraordinários. Mas inovação pressupõe risco. E risco pressupõe, além dos ganhos, perdas. O medo da perda é proporcional ao potencial do sucesso. A diferença, então, está na escolha: enquanto o primeiro paralisa, o segundo alavanca.
Na vida real, pesquisas com líderes mostram descolamento da realidade. Enquanto eles acreditam que são inclusivos, democráticos, proponentes de autonomia e inovadores, os colaboradores enxergam exatamente o contrário. É um processo de comunicação e entendimento cheio de ruídos ou truncado, porque os dois grupos miram lugares diferentes: líderes para metas financeiras, colaboradores para conquistas, sem excluir aqui os seus ganhos.
Fato é que nenhum movimento de inovação a partir da adoção genuína de diversidade será feito de baixo para cima, mas sempre de cima para baixo, porque as empresas ainda são majoritariamente verticais e hierárquicas em seus processos de decisão. Sem acesso, a base da operação instiga as lideranças, mas as ações são quase sempre soluços sem continuidade.
Admitir que esses embates invisíveis, velados e tácitos existem é o primeiro passo para uma mudança. Depois de revelada a situação, comportamentos devem ser percebidos como valores fundamentais na ascensão de novos líderes e no recrutamento de novos colaboradores. Políticas de inclusão autêntica, não elitistas, não segregacionistas e imparciais precisam ser estabelecidas, privilegiando a cultura plural e pulsante capaz de refletir um tecido social rico de que dispomos. Por fim – e não menos importante – metas de diversidade e inovação devem ter o mesmo peso dos ideais financeiros.
Diversidade não é ação social. Não é cumprimento de cota. Não é assunto de RH. É questão estratégica para ganhos de competitividade, construção de marcas mais admiradas, de promoção de negócios mais sustentáveis e, sem dúvida, formados por pessoas mais felizes.
Escrito por
Edmar Bulla
Palestrante sobre inovação, tendências e comportamento |
Fundador do Grupo Croma | Embaixador ChildFund Brasil.
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