Nem toda tecnologia é uma inovação

Por Edmar Bulla

Tecnologia e Inovacao grupo croma solutions

Tecnologia e inovação: duas palavras que temos usado de maneira um pouco equivocada.

É bastante comum associar inovação à tecnologia. Então é importante definir, logo de cara, uma coisa e outra. Recorrendo à etimologia, tecnologia vem do grego tekne, que significa arte, técnica ou ofício, e logos, um conjunto de saberes. Portanto, para os gregos – e para nós, também – a tecnologia está longe de ser apenas um punhado de bites e bytes. Tecnologia é a coleção de conhecimentos humanos usados para produzir objetos, artefatos ou soluções que modifiquem o nosso meio e a nossa própria existência.

Defino melhor agora a inovação: a palavra vem do latim innovatio, innovationis, uma derivação do verbo inovare, e significa mudança ou renovação. Mas, para ser inovação-inovação-mesmo, ela tem que ser diferente do que existia ou completamente inédito, o que chamamos de invenção. E isso também pode ser um objeto, uma ideia, um método ou adições a algo que já exista.

Mas quando a tecnologia é uma inovação? Quando ela é feita para satisfazer necessidades humanas, seja um processo ou um aparato eletroeletrônico, por exemplo. Tecnologia é inovação quando gera valor para a vida humana. E gosto de usar quatro critérios para avaliar se uma tecnologia é, de fato, inovadora. Compartilho esse pensamento e exemplos sobre como podemos identificar facilmente uma inovação. Vamos lá:

  1. Inovação precisa ser útil: quando nossos ancestrais, os homo erectus, há mais ou menos 1,5 milhão de anos, inventaram a faca, ainda de pedra, para caçar e se defender, não tinham sequer ideia da utilidade disso, em larga escala, até nossos dias. Faca é útil para qualquer ser humano, sem distinção. É uma baita inovação que agrega valor sendo útil para bilhões de humanos.
  2. Inovação precisa ser culturalmente relevante: códigos culturais nos definem enquanto sociedade. Eles são tão fortes que moldam nossas crenças, das quais brotam nossos comportamentos e rituais. Brasileiros têm seus códigos, assim como os italianos, japoneses e habitantes da Sibéria. Inovação só agrega valor quando dialoga com esse molde invisível da cultura de um povo, uma sociedade, uma tribo. O Brasil, historicamente cristão desde os idos de 1500, é um terreno fértil para qualquer inovação religiosa associada à imagem de Cristo. Novas igrejas, portanto, pipocam aqui e acolá, surfando tantas ondas de oportunidades que as fazem seguir à risca o “crescei e multiplicai-vos”.
  3. Inovação precisa compartilhar um interesse comum: a obesidade é uma pandemia global e contínua. É um tema de interesse comum. Inovações que dialoguem com esse interesse têm lá as suas vantagens: dietas, medicamentos, academias, alimentos… É uma enxurrada de soluções que caem no gosto popular porque alguém, de algum modo, sofre ou conhece alguém em condição de obesidade e se identifica com isso.
  4. E, para empresas em nossa sociedade de consumo, a inovação precisa defender o negócio: aqui, apenas cumprir as regras anteriores não basta. A inovação precisa ser escalável, replicável, ter ampla cobertura, facilmente distribuída e dar bons resultados financeiros. O pote no final do arco-íris é o lucro. E empresas estão sempre sedentas por encontrar inovações em produtos, serviços e experiências que possam dar um bom retorno sobre o investimento. Durante a pandemia, as empresas farmacêuticas disputavam a tapas quem traria a primeira vacina.

Em resumo, nem toda tecnologia é uma inovação, mas toda inovação é uma tecnologia. E agora sabemos diferenciar uma coisa da outra ao adotar a análise dessas quatro condições: utilidade, relevância cultural, interesse comum e aplicabilidade ao negócio.

É certo que, a partir da revolução industrial, a quantidade crescente de aparelhos movidos a energia elétrica, solar ou a combustão, criados para equipar nossas cozinhas, mandar um “zap” ou nos transportar, ajudaram a formar esse imaginário um tanto quanto limitante. O que hoje chamamos de tecnologia, de fato o é, mas não é só isso. Ela vai muito, muito além das nossas tomadas.

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Escrito por
Edmar Bulla
Palestrante sobre inovação, tendências e comportamento |
Fundador do Grupo Croma | Embaixador ChildFund Brasil.
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