Por Edmar Bulla
Pornografia, autoritarismo e repressão são combinações ainda mais perigosas em tempos de Inteligência Artificial.
“A diretora de uma escola da Flórida foi forçada a renunciar depois que um pai reclamou que alunos da sexta série foram ‘expostos à pornografia’ durante uma aula sobre arte renascentista que incluía a escultura David, de Michelangelo.” A nota, publicada pelo Estadão, ainda trazia mais detalhes: o ultimato do presidente do conselho escolar para a renúncia, pais que exigiram notificação sobre o conteúdo prévio das aulas e outras duas pinturas classificadas como obscenas: a Criação de Adão (que está na Capela Sistina, devidamente guardada sob “olhares divinos”) e o Nascimento de Vênus.
A repressão sexual é o que nutre movimentos autoritários. Tudo o que é desejado, mas é proibido, gera atração, subversão ou aniquilação. O tamanho do estrago vai depender de muitos fatores, incluindo formação, amadurecimento psíquico, posição social e o peso da caneta. O pênis de Davi comprova que nazismo e fascismo são atemporais, porque os mecanismos psíquicos associados a eles encontram réplicas ou descendentes que vagam perigosamente por aí, como comentou Leandro Karnal.
O fato é que o conteúdo realmente pornográfico (que não é o pênis de Davi) produz níveis antinaturais de dopamina. Como todo vício, cria um processo autodestrutivo acompanhado de sintomas depressivos, piores saúde mental e qualidade de vida, maior desinteresse pelo sexo real e disfunção erétil. A pornografia faz o cérebro regredir a um estágio infantil, porque vai comprometendo o córtex-frontal, responsável, entre outras funções, pelo nosso comportamento social. E, como se já não bastasse o consumo assustadoramente grande de pornografia na internet, ela conta com aliados reprimidos sexualmente e com sérias neuroses a serem tratadas como, por exemplo, os pais da escola na Flórida e até presidentes e ministros de Estado. Um outro aliado, que está em uma dimensão afoita por parecer cada vez mais humana, é a Inteligência Artificial.
É certo que necessitamos urgentemente de mecanismos que possam punir violências produzidas pela IA, especialmente contra mulheres e tribos consideradas “diferentes” do padrão heteronormativo e da ideologia cristã ocidental. Questões éticas e morais precisam ser contínua e amplamente debatidas para que o uso das tecnologias por seres humanos aconteça a nosso favor – e não contra nós.
Contudo, temo pelas pautas focadas exclusivamente em moderação e controle, que são padrões de ação tipicamente autoritários. Reprimir não é a solução. Só piora tudo. O ideal é promover letramento sobre fake news, deep fake e, agora, as muito acessíveis ferramentas de Inteligência Artificial, que não demandam praticamente nenhum esforço técnico para serem usadas. Mas, até esta evolução humana chegar, que depende necessariamente de educação e conhecimento, devemos estar preparados para muitas novas vítimas do hipócrita e borbulhante esgoto da internet.
Escrito por
Edmar Bulla
Palestrante sobre inovação, tendências e comportamento |
Fundador do Grupo Croma | Embaixador ChildFund Brasil.
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